Destribalização, regedorias e desenvolvimento comunitário: notas acerca do pensamento colonial português (1910-1965)
DOI:
https://doi.org/10.48487/pdh.2015.n1.24142Palavras-chave:
Destribalização, regedorias, desenvolvimento comunitário, império colonial portuguêsResumo
Este artigo pretende dar um contributo para a sociologia histórica das instituições de controlo social e político no império colonial português. Através da genealogia da categoria da “destribalização” e da figura do “destribalizado” nos campos do ensino e da administração coloniais, questiona-se a novidade e a natureza reformista das políticas ultramarinas de 1961: a criação das regedorias e os projectos de desenvolvimento comunitário. Este texto tenta lançar as bases de uma via analítica diferente que não se deixe contaminar pelos discursos dos agentes da época estudada, reproduzidos, na literatura actual, em duas teses distintas: por um lado, na ideia de que as rege- dorias serviram, ao contrário da justificação oficial do regime, o controlo militarizado das populações coloniais em tempos de guerra; por outro, na afirmação de que o desenvolvimento comunitário seria a manifestação política benigna de uma progressiva alteração do paradigma científico colonial em Portugal. O estudo da recepção e circulação das ideias em torno da “destribalização” mostra que ambas as teses correspondem a uma simplificação e reprodução das tomadas de posição e estratégias dos actores historicamente situados. Por último, são levantadas algumas questões a propósito da dependência dos modos de conceptualização portugueses face a discursos circu- lantes a nível internacional, bem como da autonomia relativa das ciências sociais em relação aos campos administrativo, político e militar do Estado-império.